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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Sou tantas e sou uma... Existo e sumo... Mergulho e retorno... Intensa, curiosa, aprendiz, crítica, sensível... Por vezes sábia. Vivendo na montanha-russa, em altos e baixos constantes... Metamorfose ambulante. Eu? "Contradigo a mim mesmo porque sou vasto" (Walt Whitman)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Cinema e Educação

Acabei de assistir e gostei muito. Emocionante realmente.
Anos 30. Uma cidadezinha do interior da Espanha. A figura do velho e sábio professor, muito respeitado, num tempo de ingenuidade e romantismo, quando havia menos correria e mais gentileza e atenção com a natureza e uns com os outros... Uma criança sensível e curiosa, descobrindo o mundo e tendo no mestre um modelo e um grande apoio... Bondade, respeito, descobertas... A liberdade como valor supremo. Até que...
O fascismo chega e joga uma grande bomba em tudo isso.
O medo de ser perseguido e morto toma conta de tantos que outrora eram tão idealistas.
Crianças estranham, a princípio, mas logo entram no clima perverso, sem noção de todo esse absurdo. Seguem a "onda"...
A vida comprova o que o velho mestre havia dito ao menino: " O inferno não existe. A crueldade e a maldade humanas é que são o inferno."
E tem mais!
As mulheres da época... A mãe zelosa, religiosa, que não pensa duas vezes na hora de defender a sua família, a qualquer preço. Moralista, conservadora...
A moça mal falada, filha "bastarda", solitária, vivendo distante da cidade apenas com seu cachorro, mas cheia de fogo, descobrindo o prazer...
O cão amigo, companheiro, vítima do "inimigo" que chega no escuro, de surdina e ataca, covardemente, por raiva e ciúme, àquele que não fazia mal a ninguém. Àquele que apenas latia. Assim como as pessoas idealistas da cidade, que apenas diziam o que pensavam e viviam de acordo com suas verdades e que, também por isso, foram caladas.
Armas calando latidos.
Armas chegando para ocupar todos os espaços, antes compartilhados.
Instala-se o regime autoritário, fechado, que não tolera vozes discordantes e massacra as diferenças, que persegue e abafa os partidários da liberdade de pensamento e de expressão. Truculento e feroz, chegando como rolo compressor, acabando com um tempo de delicadeza.
É, professor... O lobo nunca poderá dormir com o cordeiro. O senhor tem razão.
Entre outras imagens belíssimas, ficou em mim, após assistir o filme, a figura do professor, sua fragilidade física, natural da idade avançada, unida a uma postura digna, íntegra, pacífica e honrosa. Ficou marcado o seu olhar, misto de surpresa e tristeza, ao ver a atitude do menino, na cena final do filme.
Em mim ficaram registrados os aparentes contrários/contrastes: lobo X cordeiro, céu X inferno, sabedoria X truculência, bondade X maldade, religião X política, fascismo X comunismo, criança X velho, professor X aluno, mulher "de família" X mulher "da vida", medo X coragem, liberdade X terror, sensibilidade X violência, dispersão e agitação do jovem X concentração e atenção aos detalhes (onde grandes belezas e mistérios da natureza se fazem presentes) do idoso ... E ficou também registrada a certeza de que estão todos presentes em cada um de nós, que escolhemos a cada dia quais queremos ou não alimentar.
E ainda...
O mestre que não aceita propinas, que mantém seus princípios... Que dá suas aulas também fora da sala de aula, ensinando a amar e respeitar a natureza (nada mais importante e atual!)... A solidão desse mestre, tantas vezes só tendo a si mesmo para se apoiar, nos momentos em que parecia estar falando sozinho... A cena do professor tentando dar aula enquanto os alunos fazem a maior bagunça e não prestam atenção em nada do que ele diz é emblemática. E continua atual! Quantos professores, hoje em dia, já passaram por isso, mil vezes?! Infelizmente nem todos conseguiram ou conseguem ter a postura de paciência e respeito ao direito de escolha alheio que o velho mestre tem no filme, quando, ao invés de esbravejar, se cala, reflete, observa e aguarda até que a própria turma perceba o que está perdendo e volte sua atenção para a aula. Minutos de aula são perdidos sim, mas o maior ensinamento é passado. Sem o espaço e a liberdade para errar, não se aprende nem se chega a acertar verdadeiramente. O verdadeiro mestre compreende isso e proporciona esse espaço, acompanhando de perto.
É impossível não pensar na escola que temos, onde, muitas vezes por vaidade, outras vezes por insegurança, a truculência e as tentativas de obter respeito vêm pela força, pelas ameaças, no fundo pelo medo de "perder o controle" e, com isso, o espaço e o tempo necessários para que os erros aconteçam e, a partir deles, também o aprendizado, acabam se perdendo...
A criança, um solzinho nascendo pro mundo, descobrindo, repetindo, aprendendo com o exemplo, bom e mal, dos adultos, tendo muito pela frente ainda, muito para amadurecer... O velho sábio, sol poente, compreendendo a importância do sol (seu ego) sair de cena em muitos momentos, para que outros possam brilhar, errar, acertar... Verdadeiramente arquetípica essa dupla do filme: o menino e o velho.
Verdadeiramente emocionante.
Um belo filme!

OBS.: Não sei se ficou claro, mas vi o cão de forma simbólica, no filme. Aliás, todo o filme pode ser visto assim.
A criança agindo como age no final pode estar mostrando o fim da inocência, o fim de um tempo de pureza e a chegada de um tempo de violência e opressão. Tudo muito bonito, por um lado e triste, por outro...
Não deixem de assistir!