

“O homem tem duas almas: uma que olha de dentro para fora e outra que olha de fora para dentro”.
(Machado de Assis)
Carl Gustav Jung, médico suíço, psiquiatra e criador da Psicologia Analítica, viveu de
O passo preliminar desse processo é o desvestimento das falsas roupagens da persona. A palavra “persona” significa “expressar-se através de uma máscara” e vem do teatro grego pois, para os antigos, persona era a máscara que o ator usava segundo o papel que ia representar.
Segundo Jung, para estabelecer contatos com o mundo exterior e adaptar-se às exigências do meio, assume-se uma aparência artificial que não corresponde ao ser autêntico. Esta aparência seria a persona (na verdade, usamos várias personas, segundo Jung).
Podemos ver as personas como fachadas criadas de acordo com as convenções coletivas, quer no vestir, no falar ou nos gestos: persona de professor, de médico, de militar, etc.
A persona é um sistema útil de defesa, mas, quando é muito valorizada, o ego consciente pode fundir-se com ela e o indivíduo ficar reduzido aos seus cargos e títulos, isto é, à sua casca de revestimento. Dessa forma, ele se afasta do seu “self”, que representa suas verdadeiras potencialidades.
Segundo Jung, existe uma oposição entre os arquétipos (carga com a qual nascemos) da persona e da sombra. A “sombra” representa a parte de nossa personalidade total que nos causa repugnância. O excesso de “persona” pode reprimir totalmente a “sombra” e esta, então, é projetada, gerando injustiças e preconceitos como, por exemplo, a discriminação racial (projeção da sombra coletiva).
Um exemplo da oposição Persona X Sombra, é o personagem com dupla personalidade do romance “O médico e o monstro”, Dr. Jekyll e Mr. Hyde, onde o primeiro é o médico sensível e bondoso – persona - e o segundo um monstro insensível e criminoso – sombra -, representando os dois lados (polaridades opostas) da mesma pessoa.
A esse respeito, Jung dizia: “Tenha a doçura das pombas, mas também tenha a astúcia da serpente”.

Persona é:
- o falso “eu”
- máscara
- sedutora
- proteção necessária (não ter persona é ficar kamikaze na vida)
- expansão
- ferramenta na nossa estruturação egóica
- arquético da adaptação social
- pseudoego: faceta externa de adaptação do ego (no início o ego se encontra na persona, formada para atender à expectativa dos pais)
- compromisso do ego com o mundo externo (identidade social)
- como a pessoa é perante a sociedade
- desempenhar um papel social
- parecer isto ou aquilo
- compromisso entre o indivíduo e a sociedade: nome, título, ocupação, etc.
- atitudes em relação ao mundo
- imagem de si mesmo apresentada ao mundo
- mediadora entre o ego e o meio externo
- cartão de visita
(Plutarco)
A persona pode ser mais genuína ou pode ser pura representação e aparência (falsa e mal intencionada). A persona genuína pode ser, por exemplo, um papel que você desempenha vindo de dentro – exemplo: o de neta, o de professora etc – e, nesse caso, é sincero e pode estar ligado a um arquétipo – por exemplo: a persona de neta respeitosa diante da “velha sábia”.
A persona expressa-se em imagens de roupas, uniformes, máscaras, nudez, transparências, estar descalço, etc. Por exemplo: um professor que sonha estar dando aula nu – este sonho pode ter, a princípio, dois significados opostos: ou ele está exposto demais, precisando se preservar e firmar seu papel (persona) de professor, ou está usando máscara demais de professor e, por isso, precisa se expor mais.
O grupo social/profissional pressiona para que o indivíduo assuma valores impostos de fora para dentro. A originalidade não é bem acolhida e o padrão de normalidade pode abafar as manifestações criativas.
“Em benefício da imagem ideal, à qual o indivíduo aspira moldar-se, sacrifica-se muito de sua humanidade”.
(Jung)
Toda máscara é bidimensional, isto é, é uma fachada que não contém a terceira dimensão, que seria a verdadeira individualidade (não contém o “self”). A rigidez, associada à morte e à petrificação, é um atributo da máscara. Por isso, muitas vezes, um grau intenso de rigidez imposto pela persona impede a manifestação original, a capacidade de fantasiar espontaneamente, etc.
Quanto maior a persona, menor a individuação, e quanto menor a persona, maior a capacidade de sonhos e fantasias ligadas ao elemento cósmico, ao tempo/espaço infinitos, às conexões simbólicas, astrológicas, lunares, etc.
“A personalidade consciente, como se fora uma peça entre outras num tabuleiro de xadrez, é movida por um jogador invisível. É este quem decide o jogo do destino e não a consciência e suas intenções”.
(Jung)
“Assim, pois, encaro a perda do equilíbrio como algo adequado, pois substitui uma consciência falha, pela atividade automática e instintiva do inconsciente, que sempre visa a criação de um novo equilíbrio; tal meta será alcançada sempre que a consciência for capaz de assimilar os conteúdos produzidos pelo inconsciente, isto é, quando puder compreendê-los e digeri-los”.
(Jung)
De maneira geral, podemos fazer dois usos da persona: um defensivo/patológico (identificação com a persona = normopata) e um criativo, como acontecia, por exemplo, no teatro grego.
Teatro Grego
Nasceu das danças e dos versos improvisados nos rituais dionisíacos. Os gregos consideravam Baco (nome latino de Dioniso ou Dionísio) protetor das belas-artes, em particular do teatro, originado nas representações que faziam por ocasião das festas em honra ao deus.
Viver dezenas de vidas, representar diversos papéis ao mesmo tempo e transformar-se em outras divindades faziam parte do teatro grego.
Téspis, o primeiro ator do teatro grego, simulava ações de outrem e suscitava toda sorte de sentimentos na platéia. Suas encenações correspondiam às paixões do público e, então, acontecia o fenômeno da catarse, entendida como “a purificação das almas através da descarga emocional provocada pelo drama”.
Téspis tornava-se um guerreiro, um deus, um representante dos desejos dos cidadãos, um profeta, um impostor, etc. E todos participavam, concordando ou discordando (o teatro grego era bastante interativo; a platéia tinha participação ativa), cantando com o coro, aplaudindo ou atirando pedras.
As máscaras, antes de Téspis, eram dotadas de feições animais.
Cabia ao ator representar com o rosto, o corpo e as máscaras.
Para Aristóteles, a “catarse” é muito importante porque “ao inspirar, por meio da ficção, certas emoções penosas ou malsãs, especialmente a piedade e o terror, ela nos liberta dessas mesmas emoções”.
A tragédia e a comédia faziam parte do teatro grego.
O conteúdo da tragédia era o mito (inicialmente apenas a lenda de Dionísio).
A comédia só apareceu um século depois da tragédia. Raízes de ambas: festas dionisíacas – elementos solenes do ritual: tragédia; partes alegres: comédia.
Na comédia, muitas vezes as máscaras exprimiam caricaturas ou personagens imaginários.
O primeiro estágio da cena cômica era denominada “comédia ática antiga”. Na “comédia ática nova” a máscara adquiriu características de símbolos.
Existiram mais de quarenta tipos diferenciados de máscaras para a comédia, no teatro grego.

OBSERVAÇÃO E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Esta pesquisa sobre “Persona” e “Teatro Grego” foi feita por mim, Regina Milone, pedagoga, astróloga, arteterapeuta e psicóloga, para ministrar palestra sobre o tema "Persona, Papéis Sociais e Máscaras", no consultório de Beatriz Portella, arte-terapeuta , em 1999.
A pesquisa baseou-se em aulas assistidas no curso de Pós-Graduação de Psicologia Analítica do IBMR (Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação), no Dicionário de Mitologia Greco-Romana da Abril Cultural e na coleção “Mitologia”, volume terceiro, também da Editora Abril Cultural.
5 comentários:
Regina,
Adorei!
beijos
Olá, pesquisando sobre PERSONA, cheguei aqui... e foi um prazer ler o teu texto!... Muito informativo e interessante, e ajudou bastante a elucidar algumas questões. Abraços alados azuis.
Muito obrigada, gente!!!
Beijos...
Boa postagem! Parabéns. Lembre-se que o Dr tem sua sombra e o Monstro também. Quando manifesta o monstro o Dr. desaparece e vice-versa. Então o monstro não é a sombra do Dr. e jamais fora!
Obrigada pelo toque, Roberto!
Beijos...
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