Transformação
(Regina Milone - 12/11/2013)
No dia em que eu deixar de ser humana
Tudo vai virar de pernas pro ar
Avesso do avesso do avesso
Vou rugir como um animal feroz
E atacar quem aparecer na minha frente
Vou berrar, bater portas, quebrar o que estiver no meu
caminho
De olhos arregalados e veias saltando no pescoço
Vou odiar o mundo, a vida e toda a gente
Vou rasgar a pele
Sangrar sem cessar
Vermelha dos pés a cabeça
Vou acordar quem estiver dormindo
Incomodar quem estiver descansando
Vou destruir o que estiver à minha volta
E, com prazer, vou gargalhar da dor alheia
Debochar de tudo e todos
Assustar quem nunca perde o controle
Vou arranhar
Despedaçar
Asfixiar
Impedindo qualquer outro grito que não o meu
Qualquer outra expressão que não a minha
Vou mergulhar no fundo do poço e trazer
De lá
Todo o desespero do escuro
Do medo
Do horror
Dos pesadelos
Vou arrotar, peidar, feder
Socar, retorcer
Espreitar
Pronta pra dar o bote
Venenoso e fatal
Transbordando todo o mal
E vai ser assim
E só assim que
Como catarse
Vou tocar de novo e pra valer a minha humanidade
Voltando, sensível e forte,
Conhecendo minha raiva
E meu pavor
Vai ser assim
E só assim
Que acordarei dessa angústia tenebrosa
E poderei renascer
Mais uma vez
Dentro e pra fora de mim.
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